Revisão de identidade

A identidade fica aquém, confundindo choque fraudulento com surpresa honesta.

Às vezes, na corrida entre o cinema e o espectador, o público assume a liderança.

Às vezes, podemos vê-lo chegando, ou sentir o segredo desde o início. Podemos ver o trem na curva, antes que o apito encontre o vento. E é o bom filme que nos deixa perplexos, abre nossa mandíbula e faz um túnel. E o trem passa.



Identidade poderia ter sido esse tipo de filme - aquele mistério antiquado, ou o mistério perdido - e para um filme que se inspira em um clássico como Ten Little Indians, parecia tão cheio de promessas. O trailer, por toda a sua edição impressionante e visuais tentadores. A premissa, por toda a sua possibilidade inerente.

Dez estranhos, reunidos. Uma montagem aleatória, embora de alguma forma conectada. Um motel abandonado. Uma inundação da meia-noite. Um assassinato. Depois de outro.

E nos primeiros dois terços do filme, funciona tão bem. A máquina misteriosa passa quilômetro após quilômetro de suspeitos interessantes e tensão bem afinada, acrescentando pergunta após pergunta no lugar de respostas. Há um desafio, ou assim parece, e um difícil nisso. Estamos engajados e no momento, tão sem noção quanto as vítimas na tela.

O elenco é forte, com John Cusack e Amanda Pete adicionando uma camada de profundidade ao que poderia ter sido uma peça sem alma. A direção, de James Mangold, é nítida e visualmente envolvente, levando-nos a um ritmo constante e equilibrado.

Mas a semente está aí, para o espectador atento, para um final arruinar tudo. As pistas, como qualquer bom vilão, são óbvias e sutis, na narrativa do flashback, ou no rosto mutante do assassino recitando a história. E de repente percebemos que o mistério da promessa não é mistério algum. Que não há pistas, nenhuma lógica ou desafio para nossas mentes superarem. Como uma moeda mágica, os personagens desaparecem. Não nos importamos mais e, francamente, por que nos importaríamos? Não há mais nada para se preocupar. Fomos enganados de uma forma que simplesmente não é justa.

A ciência da reviravolta é uma arte de respeito, tanto sobre bravura quanto sobre talento. Uma boa reviravolta é o oposto da magia, a própria falta de ilusão – leve de mão e nada mais. O cineasta confiante extrai surpresa da lógica, nunca espalmando a moeda ou escondendo a carta, mas distraindo nossos olhos com uma técnica polida. Para um bom filme, o truque está na verdade, e a moeda, descobrimos, sempre esteve lá. Nós simplesmente não estávamos olhando.

Infelizmente, porém, Identidade fica aquém, confundindo choque fraudulento com surpresa honesta, e a resposta, para alguns, esteve lá o tempo todo. Desde o início, poderíamos ter imaginado e descartado como falta de tato, mas, infelizmente, o filme vai para onde esperávamos que não fosse, mesmo quando nos encolhemos e imploramos para voltar.

E ali, na escuridão do dobre da morte, a história comete o maior crime de todos: o assassinato de um filme e a morte do que poderia ter sido.